Metade delas tem portas de saída soldada; a outra metade dá no próprio prédio, o que não é recomendado pela agência reguladora

foto: Paulo Nepomuceno
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Dos cinco blocos, quatro tem as portas de emergência soldadas no térreo 
PAULO NEPOMUCENO

Com o incêndio do Museu Nacional, no final do mês de agosto, o COMUNICA UERJ percorreu todo o Pavilhão João Lyra Filho para verificar como a universidade responderia a uma eventual tragédia envolvendo fogo. A situação é alarmante: das oito escadas de emergência, quatro terminam em portas vedadas; a outra metade, todas no Bloco F, terminam no andar de serviços, situado no subsolo.

No bloco A, a porta de emergência que dá acesso ao térreo está trancada por dentro com um cadeado. Além disso, no lance que leva à falsa saída, um carrinho de carga está estacionado por onde deveriam passar estudantes e funcionários em caso de incêndio. No andar de cima, na Cepuerj, um aviso na porta indica que ela está danificada, sendo impossível abri-la. Na Faculdade de Geologia, no segundo andar, é possível ver um aviso indicando que o trancamento da porta deve ser feito às 18h.

O panorama não é diferente no bloco B. No que deveria ser a saída, a porta está completamente soldada. A irregularidade é visível por quem transita perto do lago, no sentido da Entrada 3. Por dentro, canos impedem o que deveria ser a rota de fuga. No quinto andar, na Faculdade de Engenharia, a porta corta fogo fica aberta e apoiada por uma lata de lixo.

No centro do Pavilhão, o bloco C – o mesmo do hall do Queijo e dos elevadores – não conta com uma rota específica, já que possui lances de escada anexas às rampas que o ligam ao bloco F.

No bloco D, duas portas de emergência estão instaladas, mas ambas estão soldadas, impedindo o acesso à área externa. Uma delas está numa sala anexa ao final da escada.

No bloco E, pôsteres colados no que deveria ser a saída ofuscam a gravidade do problema ao lado da manifestação artística. Assim como as outras, esta porta também está soldada. No primeiro andar, o Centro de Treinamento da Universidade (Cetreina) mantém a porta de emergência trancada.

A situação no bloco F é um pouco menos tensa. Todas as quatro rotas de incêndio têm saída, mas acabam dentro do subsolo do prédio, na área de serviços da Universidade. Na Reitoria da Uerj, situada no primeiro andar do bloco, a porta corta fogo fica trancada. Já na escada próxima à Prefeitura dos Campi, no mesmo andar, o último lance possui uma corda, que restringe a passagem de pessoas para o último andar.

foto: Paulo Nepomuceno

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NORMAS VIGENTES NÃO SÃO RESPEITADAS

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as saídas de emergências em edifícios devem seguir as condições estabelecidas pela NBR 9077, sancionada em 2002 e fixada para construções a partir daquela data. Ela, porém, não se aplica ao Pavilhão, inaugurado em 1976. Apesar disso, a associação recomenda que  edificações antigas tentem seguir a norma.

O engenheiro civil especializado em segurança de edificações Felipe Raymann diz que a idade do prédio é um fator que pode ser levado em conta na situação que se arrasta até hoje:  – É muito provável que, na época, em que foi construído esse prédio nenhuma norma de evacuação tenha sido consultada.  Atualmente as Corporações de Bombeiros dos estados já estão atualizando e criando novas normas para atender as mais diversas ocupações. – destacou o engenheiro.

De acordo com o texto em vigor da ABNT, todas as oito rotas enfrentam problemas. Os acessos de emergência devem estar sempre desobstruídos de obstáculos. Devem também ter portas que abrem no sentido de saída (empurradas, para quem sai do prédio) e que estejam sempre fechadas, mas nunca abertas ou trancadas. Além disso, elas devem ser finalizadas em locais considerados seguros, como área externa ou de refúgio à prova de fumaça, não podendo ser mais distante deste tipo de fuga do que 65 metros depois de seu fim.

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PREFEITURA DIZ QUE JÁ SOLICITOU PLANO DE EMERGÊNCIA, MAS NÃO CEDEU

A Prefeitura dos Campi da Uerj, responsável pela infraestrutura da universidade, disse que já solicitou um plano de emergência a uma empresa terceirizada: – A Rit’s Fire foi a contratada e já está vendo isso aí. A última atualização que tive é que o processo estava na mão do Corpo de Bombeiros, que está sempre fazendo exigências – disse o prefeito Geraldo Cerqueira. Perguntado se o COMUNICA UERJ poderia ter acesso, o administrador negou:  –Não [pode ter acesso ao processo]. Você pode ficar sabendo que tem.  – disse.

Em pesquisa na Diretoria de Administração Financeira e no portal de Compras do Governo do Estado, localizamos editais de contratação para troca de tubulações no campus e de prevenção contra pânico na Faculdade de Formação de Professores em São Gonçalo, mas nenhum de contratação da empresa para tal citada pelo administrador.

Procurada, a Rit’s Fire não cedeu informações nem sobre as medidas estudadas para serem alteradas, o valor do contrato, quando houve a contratação e o prazo de finalização do projeto, alegando sigilo de contrato:  –Não podemos passar qualquer tipo de informação. Apesar de ser um prédio público, o contrato é privado. Da nossa parte, não podemos ceder – disse Juliana Machado, coordenadora de projetos da empresa, que também não respondeu se está produzindo um projeto para o campus.

A Diretoria Geral de Serviços Técnicos, setor do Corpo de Bombeiros responsável por avaliar os projetos de prevenção contra incêndio, também não forneceu detalhes sobre qualquer entrada de pedido da empresa pelo projeto na universidade alegando sigilo entre as partes.

HISTÓRICO DE INCÊNDIOS É PEQUENO

Apesar dos problemas retratados pela reportagem, a universidade não tem um histórico frequente de incêndios. O último foi em junho de 2012, quando a fritadeira da cantina do 11º andar pegou fogo depois que um funcionário tentou apagar as chamas do óleo quente com água. O incidente foi controlado rapidamente pelos funcionários e por bombeiros do batalhão de Vila Isabel.

O QUE DIZEM OS CITADOS

Sobre o trancamento das portas em alguns setores administrativos, o assessor de imprensa da Prefeitura Fernando Jorge disse ter enviado uma circular para os departamentos pedindo a desobstrução, o que foi confirmado por alguns setores.

No Cepuerj, o assessor da direção Marcos Abranches confirmou o recebimento da notificação, mas disse que a porta que está danificada jamais foi bloqueada pelo setor e debitou à falta de manutenção da porta danificada à Prefeitura. A Reitoria, através de sua assessoria, também disse que a responsabilidade é da Prefeitura.

Procurada por e-mail e ligações, a Prefeitura não respondeu até o fechamento desta reportagem sobre o detalhamento do plano que a administração diz estar sendo feito e o que o setor recomenda à comunidade a fazer num eventual incidente envolvendo fogo.